“ O que é ‘espírito concentrado’
Existe um velho provérbio japonês: ‘Com o espírito concentrado, nada é impossível.’ É um provérbio citado comumente, e é interpretado no sentido de que não há nada que seja impossível, desde que seja feito com o espírito concentrado. De fato, quando se faz algo com total concentração do espírito, tudo se torna possível de realizar. Mas, em que consiste esse ‘fazer’? Já pensaram os leitores sobre isso?
Há quem pense que ‘fazer algo com o espírito concentrado’ signifique ‘esforçar-se, com grande sacrifício’. Pode ser que haja quem diga: ‘Eu me sacrifiquei tanto nos estudos, mas não consegui êxito.’ Outros poderão se queixar: ‘Fulano teve êxito descansadamente, sem se sacrificar tanto quanto eu; portanto, esse provérbio ‘com o espírito concentrado nada é impossível’ é uma mentira. O êxito depende mesmo da sorte.’
Vamos, então, analisar juntos se o provérbio ‘com o espírito concentrado nada é impossível’ é mesmo uma mentira ou se é verdade, e vamos examinar qual é o seu verdadeiro significado.
‘Com o espírito concentrado nada é impossível’ – nessa expressão não há nenhum termo que se refira a estudar com grande sacrifício. Fala-se em ‘espírito concentrado’. Portanto, o essencial é o espírito, a mente. Concentrar-se não é pensar apenas um pouquinho e só uma vez; não é uma decisão assim tão frágil. ‘Espírito concentrado’ é o espírito inabalável que leva uma decisão até o fim.
Não basta que a mente se volte apenas uma vez para a direção desejada. Uma vez direcionada a mente, esta não deve hesitar até que se atinja o objetivo.
Sem hesitação da mente, até o fim – com isto, realiza-se tudo, e este é o significado de ‘Com o espírito concentrado nada é impossível’. Falando-se assim, alguns poderão achar que compreenderam claramente, e outros poderão não entender ainda. Então, vamos refletir mais sobre o que é ‘não deixar hesitar a mente’. Há pessoas inteligentes que aparentemente entendem claramente o seu significado, sem dificuldades. Há também os que procuram entendê-lo com sinceridade, e estes têm uma atitude muito mais elevada do que aqueles que, pensando que entenderam, na verdade não entenderam suficientemente.
Pois bem, caros leitores, em que consiste então ‘não deixar hesitar a mente’? Vejamos. Uma vez pensado na mente ‘conseguirei isto’, devemos manter até o fim esse pensamento que foi desenhado na mente. Este é o significado de ‘não deixar hesitar a mente’. Tudo que for imaginado e desenhado na mente com a convicção ‘conseguirei isto’, um dia aparecerá concretizado neste mundo. Se, uma vez decidirmos ‘conseguirei isto’ e não abandonarmos esse pensamento, com certeza ele será manifestado concretamente.
‘Ah! Essas coisas eu já sabia há muito tempo. Por isso eu pensei ‘eu quero isto’, e tentei consegui-lo sem vacilar a mente, mas não tive sorte.’ Assim poderá replicar o leitor. Entretanto, observe que esse pensamento é bastante diferente do meu. Eu expliquei que ‘espírito concentrado’ significa manter decididamente, até o fim, o pensamento ‘EU CONSEGUIREI ISTO!’ Você diz que não abandonou até o fim o pensamento ‘EU QUERO ISTO’ mas ‘não teve sorte’. Veja você a diferença que há entre o meu pensamento e o seu, leitor, comparando as duas expressões que estão grafadas em letras maiúsculas.
Eu argumentei que não se deve abandonar o pensamento ‘ CONSEGUIREI ISTO’, enquanto você disse ‘EU QUERO ISTO… MAS NÃO CONSIGO, NÃO TENHO SORTE.’ Se você não tem sorte, é porque está misturado em sua mente o pensamento ‘NÃO CONSIGO’. Portanto, trata-se do total oposto ao pensamento que eu sustento.
Dentro da expressão ‘CONSEGUIREI ISTO’ não há nada misturado ao pensamento ‘conseguirei’, mas em uma expressão do tipo ‘eu quero isto’, está misturado o seguinte pensamento: ‘eu quero isto, mas talvez não o consiga’. Assim, com o ‘espírito concentrado’ no pensamento ‘eu quero isto’, é natural que nem sempre haja êxito.
Dentre os que vão prestar algum exame, todos ‘querem passar nesse exame’. Porém, nem todos passam porque, embora todos pensem ‘eu quero passar’, nem todos acreditam firmemente ‘eu conseguirei passar’.
Os pensamentos ‘eu conseguirei’ ou ‘eu serei’ têm muito mais força concretizadora do que os pensamentos ‘eu quero fazer’ ou ‘eu quero ser’.
Todos pensam ‘eu quero ser bem-sucedido’, mas somente alguns consegue sê-lo. Isso porque, embora não abandonem o pensamento ‘eu quero ser’, logo abandonam, desapercebidamente, o pensamento ‘eu serei’. E, posteriormente, essas pessoas dirão: ‘eu quero ser, mas não consigo’. Assim, terminam, de fato, não se tornando bem-sucedidas. Creio que aqui ficou bem clara a diferença entre o ‘quero ser’ e o ‘serei’.
Caros leitores, aqui está o segredo para o êxito em uma realização ou para serem bem-sucedidos na vida. ‘Espírito concentrado’ significa seguir até o final, com o único e inquebrantável pensamento: ‘Eu conseguirei! Eu serei!’
Quando, na mente, acreditamos ‘eu conseguirei’, a coisa desejada já realizada no ‘filme’ da mente. O que foi impressionado no ‘filme’ da mente aparecerá realmente neste mundo, tal como aparecem na tela de cinema as imagens anteriormente gravadas em filme.
Se, porém, antes da concretização da coisa almejada, deixarmos de lado a ideia ‘eu conseguirei’ e a trocarmos involuntariamente pela ideia ‘não vou conseguir’, aparecerá concretizada em nossa vida essa última ideia. Assim, é natural que não tenhamos boa sorte.
A história de Émile Coué
Morava na cidade de Nancy, na França, um farmacêutico chamado Émile Coué [1857-1926]. O farmacêutico é um profissional que estudou as substâncias componentes dos remédios, e sabe qual remédio é bom para tal doença. Um dia, veio um doente à casa de Émile Coué para comprar um dado remédio. Ele pediu a Émile que lhe vendesse esse remédio. Havia na farmácia esse remédio, mas já estava vencido o seu prazo de validade, de modo que a sua composição química estava alterada e, portanto, estava claro que o remédio não mais traria o efeito desejado. Émile desculpou-se, dizendo que tinha aquele remédio, mas que ela não mais servia, por estar com a validade vencida. Mas o doente teimou dizendo que, tendo aquele nome, o remédio lhe serviria, não importando que estivesse estragado ou já decomposto. E ele conseguiu comprar o remédio, forçando o farmacêutico a vendê-lo. Alguns dias depois, esse doente veio agradecer ao farmacêutico: ‘Sarei graças àquele remédio!’
Émile assustou-se. Pois estava bem claro a ele, farmacêutico, que o remédio já não surtiria o efeito desejado, pois estava velho e com sua composição química alterada. E ele começou a refletir: por que o remédio surtiu efeito, se estava estragado?
Por que surtiu efeito o remédio estragado? Pensem vocês também sobre o caso. A resposta é que aquele doente acreditou: ‘O remédio com esse nome é infalível, serei curado com certeza.’ Esse doente já havia passado por muitos hospitais, e, no entanto, a doença somente se agravava. Ele consultou vários hospitais porque queria se curar. Ele, porém, custava a melhorar. Tomou os remédios indicados nos hospitais mas não se curou. Isto porque apesar de desejar, ‘eu quero me curar’, não acreditou que iria se curar, com certeza, ou que o remédio curava com certeza. Mesmo que se pense na mente ‘quero me curar’, se não se acreditar ‘vou me curar’, o remédio não fará efeito e a doença não se curará. Pela mesma razão, uma pessoa que deseja ter êxito ou sucesso na vida, em vez de pensar ‘eu gostaria de conseguir’, deve acreditar ‘eu conseguirei’.
Émile percebeu então que o efeito do remédio não é devido à matéria chamada remédio. Ele percebeu que a mente que acredita no remédio é que o faz surtir efeito, e que a mente que crê na cura traz a cura. Quando compreendeu o poder da mente, Émile deixou de ser farmacêutico, e começou a ensinar as pessoas a curar as doenças através da mente. Começou a curar os doentes, fazendo-os ‘ingerir’ o pensamento ‘vou melhorar’ ou ‘vou me curar’. E, como curava tão bem, o seu método tornou-se famoso no mundo inteiro com o nome de ‘Método Coué’.
Já pensaram vocês como proceder para o paciente ‘ingerir’ os pensamentos ‘vou melhorar’ e ‘vou me curar’? Acondicionando-os em comprimidos? Ou dissolvendo-os num copo d’água? Se obtivermos êxito em fazer o paciente ‘ingerir’ adequadamente o pensamento de que ‘vou melhorar’ ou ‘vou me curar’, a doença de curará. Porém, como se trata de uma questão do âmbito mental, não é possível ‘ingeri-lo’ dissolvendo-o em água ou diluindo-o na boca.
Émile Coué interessou-se em descobrir um método para fazer o homem ‘ingerir’ os pensamentos ‘vou melhorar’ e ‘vou me curar’, e teve êxito. Era a técnica chamada ‘autossugestão’. Essa técnica consiste em, utilizando-se o poder da palavra, fazer com que se introduza em sua própria mente a ideia ‘vou melhorar’.
A palavra possui uma força misteriosa. Quando se diz a uma criança, ‘como você é boazinha!’, ela realmente se comporta bem. ‘Esse menino não tem jeito, só faz travessuras!’ – assim dizendo-se, o menino se torna ainda mais travesso. A isso denominamos poder da palavra. A palavra cumpre a função de fazer com que se infiltre, na mente de quem ouve, a ideia que as palavras expressaram.
É o método utilizado por Coué. De manhã, logo ao despertar, antes de sair da cama, e à noite, já na cama, quando já está prestes a pegar no sono, a pessoa deve dizer para si mesma, vinte vezes, em voz baixa, audível somente para si, as seguintes palavras, ‘de agora em diante vou melhorar cada dia mais, em todos os aspectos’, e depois convencer-se, do fundo da mente, ‘é isso mesmo! Vou melhorar com certeza!’ Isto é o ‘espírito concentrado’. Convencendo-se na mente, ‘vou me curar com certeza’, e mantendo-se esse pensamento até o fim, a doença se curará. Quando não há nenhuma doença ou nenhum problema específico, mentaliza-se, ‘de agora em diante vou melhorar cada dia mais, em todos os sentidos’. Mentalizar assim vinte vezes todas as manhãs e todas as noites. Isso trará infalivelmente melhoras em todos os aspectos. Mas, não adiantará nada se a pessoa experimentar isso por um ou dois dias apenas, e depois desistir, pensando, ‘ah, isso não resolve’. Quem faz isso ‘ingerirá’ o pensamento de que ‘não resolve’, e portanto nada será resolvido, exatamente como foi pensado. Especialmente no caso de estar doente, se a pessoa pronunciar mentalmente vinte vezes, de manhã e à noite, ‘o homem é filho de Deus; a doença na verdade não existe; aparento estar doente, mas isso é falso; por isso, logo vou me curar’, então a doença se curará depressa. Mesmo no trabalho ou para prestar um exame, a pessoa será bem-sucedida se repetir mentalmente, antes de começar, umas cinco ou seis vezes, ‘serei bem-sucedido porque farei junto com Deus’, criando assim a sensação de estar realmente junto com Deus.
Pronunciando-se sempre a palavra ‘conseguirei’, nascerá o pensamento de que ‘eu conseguirei’, e esse pensamento aparecerá infalivelmente concretizado no mundo físico, permitindo que se alcance realmente o objetivo.
O homem não se torna aquilo que gostaria de ser, mas sim, aquilo em que ele acredita ‘eu posso ser’. O homem nem sempre consegue fazer aquilo que ele gostaria de fazer, mas aquilo que ele acredita conseguir.
Para melhorar o destino, para se tornar uma pessoa bem-sucedida, para ter saúde e para ter êxito na vida, o homem deve aprender a utilizar a mente. ”
Excertos de Jinsei Tokuhon, de Masaharu Taniguchi, Nippon Kyobun Sha Co. Ltd., Tóquio (1963), a partir da tradução em português da Seicho-no-Ie do Brasil (1974). Texto somente para estudo e uso pessoal.
Ilustração disponível em:
https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/2/21/Émile_Coué_02.jpg
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