sábado, 4 de maio de 2024

Decifrando os simbolismos da Bíblia

Os simbolismos bíblicos sobre as tentações que dificultam o crescimento espiritual.

Este texto nos oferece uma pequena amostra do tesouro de ensinamentos espirituais, psicológicos, morais, contidos na Bíblia. Entretanto, para que o leitor possa acessar corretamente muito desse tesouro, é necessário possuir alguma familiaridade ou conhecimento a respeito dos vários simbolismos da linguagem bíblica. Tal conhecimento é a chave que abre esta arca do tesouro. Aqui, as armadilhas e tentações que podem dificultar o nosso crescimento espiritual são simbolizadas por diferentes objetos e animais, mencionados em uma passagem do Livro de Reis.


“ O OURO, A PRATA, O MARFIM, OS MACACOS E OS PAVÕES

Sabemos que a consciência espiritual, a qual todos buscamos construir, é referida na Bíblia como o Templo de Salomão. O nome Salomão, literalmente, significa pacífico, e na Bíblia, simboliza sabedoria. Isso é lógico, pois uma mente em paz é o alicerce de toda construção espiritual, da felicidade e de todo sucesso duradouro em qualquer área. De fato, a mente em paz é reveladora de sabedoria. Buscar e dedicar-se à paz [Salmos 34:14] é a sabedoria suprema, uma vez que tal assegura a construção do templo.

A Bíblia menciona que cinco coisas podiam ser encontradas no templo – ouro, prata, marfim, macacos e pavões [1 Reis 10:22]. Essa é a maneira em que a Escritura ensina que há cinco tentações principais que podem ocorrer à alma que empenha-se em se libertar – que empenha-se em construir o templo espiritual. A forma característica que cada tentação pode assumir variará, naturalmente, conforme o temperamento e circunstâncias do indivíduo, mas, de modo geral, é a mesma para todos.

Primeiramente, temos o ouro, que representa o desejo de poder pessoal e sobre outras pessoas, o desejo de controlar suas vidas, de fazer com que elas ‘andem na linha’ – na nossa linha, naturalmente – e mesmo de usá-las. Muitas pessoas no caminho espiritual sucumbem a essa tentação. Elas buscam dominar as almas das outras pessoas. Elas dizem a si mesmas que tudo é pelo bem das outras pessoas, mas, na verdade, trata-se de desejo de poder e glorificação pessoal. Este não é um pecado ignóbil como aquele representado pela prata, e exatamente por isso ele é letal, e muito mais perigoso e de amplo alcance e mais persistente. Ele é mencionado em outra passagem da Bíblia como a ‘mulher de escarlate da Babilônia’.

O verdadeiro significado de ‘ouro’, aquilo que o ‘ouro’ realmente simboliza quando corretamente compreendido, é a onipresença e a acessibilidade de Deus; e, obviamente, a tirania religiosa é a negação disso. É importante que você faça tudo que puder para auxiliar, iluminar e inspirar os outros, tanto quanto o seu próprio entendimento permita, mas você não deve nunca tentar constranger suas almas, impor as suas convicções; nem tampouco atá-los a você ou às suas opiniões. A tirania religiosa é tóxica para suas vítimas; mas é absolutamente letal para os tiranos.

A seguir, temos a prata. Ela simboliza ganância por dinheiro, ou o valor monetário de objetos que possam ser vendidos, ou ainda a própria riqueza, simplesmente pela posse de uma grande fortuna. Ou pode ser que o transgressor não esteja interessado em riqueza. O que ele deseja é ocupar uma posição de honra e de dignidade aos olhos do mundo. Ele deseja ‘ser alguém’. Ele deseja ser considerado importante, e receber adulação ou aplauso.

Com frequência, ele deseja ser um ‘líder’, não porque ele tenha uma mensagem a compartilhar – em tais casos, ele nunca tem – mas para ser importante e admirado. Ele é como a moça que deseja ser uma prima-dona, não porque ela tenha uma bela voz e aspire ao seu uso artístico – e proponha-se a se esforçar e se capacitar para isso – mas simplesmente para estar nas notícias de jornal e receber os aplausos e os buquês de flores.

Para ele, não importa o poder. Ele não possui suficiente profundidade para incorrer nesse pecado. Ele se satisfaz com a aparência de poder e importância. Ele é uma vítima da vaidade e do egoísmo.

Ora, em linguagem simples, isto é adorar o mundo em vez de Deus, e o resultado é óbvio. Este é um pecado baixo e ignóbil, prontamente identificado, mesmo por pessoas desatentas, e, portanto, não é muito perigoso, exceto para o próprio transgressor. Para ele, é uma barreira insuperável atravessada em seu caminho espiritual, até que ela seja reconhecida e removida.

Depois, temos o marfim. Este representa o apego excessivo a um determinado mestre, a uma determinada obra ou escrito, ou a uma determinada igreja ou organização. Trata-se de uma lealdade equivocada. Este é um erro desinteressado, embora mortífero. Quaisquer professores ou autores religiosos, por mais ilustres, quaisquer igrejas ou organizações, por mais amadas, ainda assim, são meios para alcançar um fim. O fim em si é o crescimento espiritual.

Muitos alunos recebem considerável apoio de um certo professor ou de uma certa igreja, e fazem bastante progresso, durante algum tempo. Então eles percebem que superaram o professor, e que poderiam obter maior auxílio em outro lugar, mas recusam-se a seguir adiante – a partir de um senso de lealdade equivocado.

Seguramente, você não deve lealdade a ninguém ou a nada, exceto à sua própria alma – e essa é a lealdade mais sagrada que você poderia ter. Reconheça com gratidão todo o apoio que você recebeu, de todas as fontes, mas lembre-se de que sua lealdade é devida a Deus, através de seu próprio desenvolvimento espiritual. Você deve se sentir à vontade a todo momento para ir a qualquer lugar onde você possa obter maior apoio, independentemente de considerações pessoais. Agir de outro modo é cometer um pecado contra o Espírito Santo.

O macaco representa as tentações relacionadas ao corpo, tais como a sensualidade, vícios em bebidas, drogas e assim por diante. Essas são coisas tão óbvias que a vítima não consegue enganar a si mesma sobre eles, de modo que ao menos ela conhece sua própria situação. A qual pode, é claro, ser superada através de oração sistemática.

O pavão representa a vaidade. Ela pode assumir a forma de orgulho intelectual, ou de uma ideia presunçosa de que algum grupo pequeno e desconhecido não pode ter nada de relevante a oferecer, ou o desejo de participar de coisas da moda e poderosas, mesmo que erradas.

Inclui-se também o orgulho espiritual da parte daqueles que realmente estão na Verdade, e essa é pior do que qualquer das outras formas.”


Tradução de excertos de Make your life worth wile, de Emmet Fox, Harper & Brothers Publishers, New York (1942). Texto somente para estudo e uso pessoal.

Nenhum comentário:

Postar um comentário