terça-feira, 25 de julho de 2023

Tufão ou orvalho?

 

O poder maior da atitude serena e humilde, seja na vida cotidiana ou no alcance do amor.
Uma reflexão sobre duas atitudes contrastantes e suas implicações na vida em geral e sobre o exercício do amor: o agir espalhafatoso, ruidoso e o agir de forma serena, discreta, suave. Também disponível em Pensamento Novo - Brasil.


“ ALGUMAS REFLEXÕES SOBRE O AMOR

Quem gosta de fazer alarde sobre si próprio é impetuoso como um tufão, mas apenas destrói com sua impetuosidade. Aquele que possui verdadeiramente um profundo amor não se vangloria. O vendaval surge quando há um ‘vácuo’* em algum lugar. De modo similar, quem se vangloria possui em alguma parte da sua mente um vazio, e faz alarde para esconder essa falha.

Segundo um ponto de vista psicológico, as pessoas buscam diversões porque possuem o desejo de fugir de si mesmas. Estando insatisfeitas com a própria situação, precisam naturalmente fugir de si mesmas, voltando sua atenção para algo. A maioria das pessoas deseja esquecer-se de si mesmas. O jovem que se vangloria também está desejando esquecer-se de si mesmo. Está assim procurando ocultar o que ele é de fato. Mas, mesmo fugindo de si mesmo, não conseguirá se ocultar eternamente. A solidão que alguém sente após vangloriar-se é a mesma que se sente após assistir a uma peça teatral, ou ao momento em que se aproxima o fim de um filme. É impossível continuar se ocultando para sempre.

Geralmente, o jovem também participa de movimentos extremistas levado pelo desejo de se ocultar. Sente-se solitário quando não está participando entusiasticamente de um movimento coletivo. Tal procedimento se assemelha a tocar uma corneta que emite fortes sons ao redor, mas é vazia de conteúdo, e não será possível experimentar a verdadeira alegria. Muitos jovens da atualidade estão sendo impelidos para essa modalidade de solidão. Eles sabem tacitamente que não suportariam efetuar uma autoanálise.

Entretanto, aquele que é verdadeiramente forte consegue efetuar uma autoanálise, e chegará o momento em que terá consciência de que seu Eu verdadeiro não era aquele indivíduo que seguia os outros, dando altos brados. Então procurará saber a causa que o levou a tomar aquelas atitudes tão ruidosas. E saberá por que se sentia solitário. Saberá que lhe faltava amor, que não estava vivenciando o amor. Quem não ama está sempre solitário. O jovem sente solidão porque busca amor. Mas não se consegue amor buscando-o. Amor é sentimento que se dá. Esses jovens não perceberam isso.

Certa pessoa se sentia solitária, mas, a partir do momento em que começou a fazer algo para o bem do próximo, acabou-se o sentimento de solidão. Amar é servir ao próximo. Não é desejar ser amado. É amar. Para amar, não é necessário realizar uma grandiosa obra, que seja vista por todos. Ao realizar uma obra grandiosa, é comum estar presente na pessoa a vaidade de quem se sente superior e espera merecer recompensa por esse feito, ou reconhecimento público. Mas, numa dedicação silenciosa de amor, semelhante ao orvalho, não se encontra essa espécie de ambição impura. Por isso, quem recebe muito reconhecimento público pode ser, ao contrário, um ser insignificante perante Deus. Diante de Deus, o amor semelhante ao do orvalho, que se forma silenciosamente durante a noite e desaparece ao raiar do dia, é bem maior do que aquele que se assemelha a uma tempestade.

Uma outra pessoa abençoava mais de cinco vizinhos todos os dias. Ela apenas mentalizava durante um a dois minutos, com toda a devoção, 'Deus, conceda a eles a verdadeira felicidade. Sejam felizes, protegidos pelo Amor de Deus'. É uma dedicação de amor oculta, mas, por ser invisível, é nobre. Se todos os homens do mundo passarem a abençoar os vizinhos e os habitantes de todos os países, jamais eclodirá uma guerra. É nessas pequeninas ações que se encontra o verdadeiro amor, que apenas doa, sem nada esperar. E quem assim ama, será considerado alguém importante aos olhos de Deus. ”


* Uma referência a uma área de baixa pressão atmosférica (Nota do compilador).

Excertos de Seikatsu to ningen to saiken (1954), de Masaharu Taniguchi (1893-1985), Nippon Kyobunsha Co. Ltd., Tóquio, a partir da tradução em português da Seicho-no-Ie do Brasil, São Paulo, 4a ed., 2004. Texto destinado exclusivamente a estudos e uso pessoal.

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