sábado, 8 de abril de 2023

Os sacrifícios e a crucificação: visão psicológica e espiritual

A crucificação de Jesus do ponto de vista psicológico.

Sabe-se hoje que a leitura da Bíblia, assim como de outras Escrituras religiosas, consideradas obras de inspiração divina, não pode ser feita de maneira literal e superficial. Além das óbvias diferenças culturais entre a época moderna e a época dos autores da Bíblia, separadas por muitos séculos, se não considerarmos os simbolismos utilizados, os quais podem ser consultados em estudos como as Concordances, dicionários de mitos ou metafísicos e outros, não se consegue decodificar e compreender corretamente os textos. Aqui, o Dr. Joseph Murphy apresenta o simbolismo dos sacrifícios e da crucificação de Jesus, sob o ângulo das leis da mente.




“A fim de avançar espiritualmente, temos de renunciar ao menor pelo maior; na Bíblia, isso é simbolizado pelo sacrifício dos animais. O que isso significa, na verdade, é a renúncia ao pensamento negativo e destrutivo, a todas as emoções negativas, e abrir espaço na alma (a mente subconsciente) para as qualidades superiores da bondade, do amor e da verdade. Em outras palavras: o sacrifício dos animais significava a prática da grande lei da substituição, como dar amor em vez de ódio, levar alegria onde houver tristeza, levar a luz onde houver trevas e entrar no espírito de perdão onde houver inimizade. O sacrifício de animais mencionado na Bíblia não é uma matança no sentido comum da palavra. É verdade, claro, que, alguns povos, em várias partes do mundo, sem compreender as leis da mente e os desígnios de Deus, acreditavam que aplacavam a roa de seus deuses com tais atos. (…)

Antigamente, quando havia fome, as colheitas eram perdidas ou o gado morria, vitimado por alguma epidemia, os homens faziam oferendas de reses. Todo aquele desastre, acreditavam, era infligido por um deus zangado. A fim de apaziguar aquele ser irado, ofereciam-lhe seus sacrifícios sangrentos, acreditando que, desse modo, conquistariam sua boa vontade. A ideia básica era renunciar a alguma coisa que lhes fosse preciosa para atingir seu objetivo ou meta. (…)

Ouvi um homem na África do Sul dizer: ‘ Vou deixar de beber e praguejar se Deus poupar meu filho.’ Novamente, aí vemos um aspecto da velha crença coletiva – o temor de um deus irado. Todos esses processos e práticas se devem ao fato de ter o homem postulado um deus à parte, um sultão oriental tirânico e despótico que governa do céu. Segundo esse conceito, Deus parece ser um Moloch canibal, que mora no céu e tem de ser apaziguado por meio de sacrifícios cruentos e por intermédio do sofrimento.

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‘De que me serve a multidão de vossas vítimas?’, diz o Senhor. ‘Já estou farto de holocaustos de cordeiros e da gordura de novilhos cevados. Eu não quero sangue de touros e de bodes.’ (Isaías 1:11). O significado dessa citação é o seguinte: qualquer estado de espírito que não seja uma aceitação mental completa do seu desejo ou ideal é uma abominação para o Senhor. Todos os sacrifícios são superstições, nada significam. Só o que é preciso é sentir a realidade de sua oração; viver, mover-se e agir nessa atmosfera mental, como se já fosse um fato concreto. Com essa atitude mental fixa, sua fé se objetivará.

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No ano passado, um homem me disse, em Londres: ‘Estamos aqui para sofrer porque a Bíblia diz ‘Temos glória com as atribulações.’ ’ (Romanos 5:3) Eis outro exemplo do homem que pensa que sua redenção só se pode dar por meio do sofrimento. Quando você se encontrar numa atribulação, isto é, se tiver um problema, e procurar a resposta, a solução, uma saída – isso é glorificar-se em sua atribulação. (…)

Não deixe de glorificar-se em sua atribulação da próxima vez. É um processo simples de oração. Não devemos distorcê-lo, colocando mais correntes em pessoas que já sofrem bastante. Considere a Bíblia como uma história sobre você – uma parábola –, uma história sempre a ser contada. A Bíblia é um grande compêndio psicológico, que ensina a você como tornar acessível o Poder, a Sabedoria e a Inteligência de Deus existentes nas profundezas do seu inconsciente. Você pode começar a fazer um sacrifício agora. Eu lhe asseguro: será o ponto de mudança da sua vida. Desista de todas as crenças em outros poderes, entronizando em sua mente apenas Um Poder Espiritual e prestando reverência apenas àquele Único Poder. O verdadeiro sacrifício é reconhecer somente Um Poder, unir-se a ele, saber que sua Vida, Amor, Verdade e Beleza estão para sempre expressos por meio de você – todo o resto é superstição e tolice completa.

Eis como praticar o sacrifício. Há pouco tempo, um amigo meu esteve envolvido num processo judicial. A outra pessoa mentiu e cometeu perjúrio. Meu amigo ficou muito indignado, hostil e fazendo recriminações. Expliquei-lhe que ele teria de sacrificar seus sentimentos, substituindo-os pelo estado de espírito de amor e fé no Princípio Absoluto da Harmonia. Portanto, vez de desperdiçar sua energia e vitalidade entregando-se a pensamentos negativos para com o homem que o estava processando, ele desviou seus pensamentos completamente, e começou a orar assim: ‘A Harmonia Absoluta de Deus reina soberana nas mentes e corações de todos os envolvidos neste processo e existe uma solução divina e harmoniosa. Prevalecem a Justiça e o Amor Divinos.’ Ele repetiu essa afirmação da Verdade com conhecimento do que fazia, com emoção e atenção concentrada, até sentir que isso estava registrado nas camadas mais profundas de sua mente. Inscrevemos essas Verdades no coração por meio da repetição, fé e esperança. Ele imaginou essas verdades sendo colocadas em sua mente profunda como que sementes depositas no solo. Depois de alguns dias, ele estava pacificado em relação a todo aquele caso, e fatos subsequentes confirmaram sua atitude mental íntima de calma e confiança. Foi dado um veredicto favorável a ele, que abençoou a todos. Era a Ordem Divina. ‘Ordem é a primeira lei do Paraíso.’ (Thomas Troward).

(…)

Um navio em perigo em alto-mar muitas vezes alivia a sua carga atirando o excesso à água, possibilitando desse modo que o navio consiga chegar a um porto seguro. Cada vez que você ora, está participando dos sacramentos e sacrificando alguma coisa, pois, quando ora, está se afastando ou renunciando a uma limitação qualquer.

Por exemplo, renuncie à ideia de pobreza e regale-se com a ideia de fartura. Renuncie à ideia de ódio e regale-se com a ideia do amor. Renuncie à ideia de tristeza e regale-se com a ideia de paz. Renuncie à ideia de inveja e regale-se com a ideia da boa vontade. Orando dessa maneira, você estará na verdade sacrificando-se, pois estará deixando o menor pelo maior. Fílon de Alexandria resumiu tudo em algumas palavras ao dizer que a única coisa que se pode oferecer a Deus, é ‘Louvor e Graças’. Como isso é belo, comovente e, no entanto, como é verdadeiro!

O estudante da Verdade se oferece diariamente numa cruz e derrama o seu sangue nesse sentido. A cruz se relaciona a ‘cruzar’ [‘atravessar’, ‘transpor’] das trevas para a luz, da ignorância para o entendimento, do medo para a fé, da dor para a saúde, da má vontade para a boa vontade. O estudante da Verdade está sempre fazendo a travessia, psicologicamente; isto é, ele se alça com as suas duas asas – o pensamento e o sentimento –, por sobre a barreira da limitação ou do problema, e pousa no Lugar Secreto, os recantos íntimos de sua mente, onde contempla a solução Divina. Lá ele imagina e configura a solução, o modo como devem ser as coisas; derrama o seu sangue. O sangue representa a vida, o que significa que ele despeja vida, amor e sentimento sobre a imagem e a torna real. Em outras palavras, ele dá vida à sua oração. Sente e prenuncia a realidade da ideia invisível. A ideia é real; portanto, ele se regozija com a ideia e dá graças por ela. Desse modo, o estudante morre para a crença no problema e revive para a crença na solução, sentindo em seu íntimo que a sua oração foi atendida. Ele entrou no estado de espírito de alegria pela oração atendida; derramou seu sangue pelo outro e o salvou de seu problema.”


Por Joseph Murphy (1898-1981). Tradução de excertos de “Prayer is the answer: The meaning of the sacraments”, Willing Publishing Company, P.O. Box 51, San Gabriel, California, EUA, 1956. Compartilhado apenas para leitura e estudo pessoal.

Ilustração disponível em: https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/5/59/Agnus_Dei_with_Vexillum.jpg


 

Um comentário:

  1. Que a Harmonia Absoluta de Deus reine soberana em todas as mentes e corações.
    Louvor e Graças se dê a todo momento!

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