Uma breve discussão da essência do ser humano, sob dois ângulos: sua potencialidade infinita em todas as áreas; e sua bondade inerente. Também disponível em Pensamento Novo - Brasil.
“ Eliminando a autolimitação
Não é possível termos verdadeiro conhecimento de um fato ou de uma coisa simplesmente ouvindo comentários a respeito deles. Existe um provérbio que diz: ‘Há uma enorme diferença entre ver e ouvir dizer.’ De fato, experimentamos muitas situações em que só distinguimos com clareza a realidade ao entrarmos em contato direto com ela.
Isso não significa que o comentário estivesse incorreto, e sim que o interpretamos incorretamente. Assim, após constatarmos o fato e aprofundarmos o nosso conhecimento acerca dele, conseguimos corrigir o julgamento errôneo que havíamos feito com base em um simples comentário. Vale lembrar que nós, seres humanos, além da capacidade de apreender coisas e fatos através dos cinco sentidos – visão, audição, olfato, paladar e tato – temos também a capacidade de captar coisas invisíveis por meio do sexto sentido.
Num contato direto com a realidade, servimo-nos de todas essas faculdades. Entretanto, diante de um simples comentário, não utilizamos todas elas. Não devemos confiar somente na intuição, nem apenas nos sentidos físicos.
Na verdade, o ser humano é onipotente. Somos filhos de Deus, dotados da capacidade de adquirir os mais diversos conhecimentos. A capacidade do ser humano é ilimitada. Porém, se confiarmos unicamente na intuição, restringiremos a manifestação da nossa capacidade ilimitada. O mesmo acontecerá se confiarmos unicamente na visão ou somente na audição. Isoladamente, elas são insuficientes.
As pessoas tendem a restringir a própria capacidade. Mesmo aquelas dotadas de múltiplas aptidões tendem a contar com apenas uma delas. Existem também pessoas muito competentes que menosprezam os outros, e se recusam a receber ajuda. Procedendo desse modo, estão restringindo a manifestação da capacidade ilimitada. Se a cooperação entre os seres humanos fosse desnecessária, Deus teria criado somente uma pessoa e ninguém mais; não teria feito surgir tantas pessoas neste mundo. A verdade é que o ‘eu’ e ‘os outros’ são indivisíveis. O ‘eu’ e ‘os outros’ são essencialmente um. Por isso, quando uma pessoa repele os outros, ela restringe a si mesma. Embora o ser humano seja dotado de imensa capacidade, as pessoas que rejeitam ou desprezam os outros só manifestam uma parcela insignificante dessa capacidade. Ninguém consegue realizar algo sozinho.
Os que tentam impor-se com atitude mental egocêntrica acabam restringindo a própria capacidade ilimitada. O mesmo ocorre aos que vivem se apoiando nos outros e perdem a independência. Saiba que, na verdade, não existe nem o ‘eu’ nem ‘os outros’, mas unicamente Deus, e que todo ser humano é filho de Deus, e que todo ser humano é filho de Deus, é expressão da Vida de Deus. Conscientize-se disso, e manifeste-o na prática. Então, uma vida de plena liberdade se descortinará, em que ‘coisas e fatos bons e agradáveis surgirão naturalmente em nossas vidas, e tudo que for ruim e desagradável se afastará de nós espontaneamente’.
Abandone a atitude mental de se prender somente a um determinado fato ou a uma determinada coisa. Tal atitude não é manifestação de individualidade nem concentração mental. É uma forma de desejo egoístico. Não se esqueça do ‘grande Eu’ (Eu verdadeiro) apegando-se ao ‘pequeno eu’ (eu fenomênico). Não se prenda à ilusão da autossuficiência. As relações humanas devem basear-se em ‘um por todos’ e ‘todos por um’. A partir dessa base é que se manifestam verdadeiramente a provisão ilimitada e a força infinita, e tudo começa a melhorar conforme se deseja. ”
“ Sobre a bondade essencial do ser humano
Existem, a grosso modo, duas opiniões sobre a natureza humana: a de que ela é boa e a de que ela é má. Essas duas opiniões estão ligadas, respectivamente, à crença em Deus e ao pensamento materialista.
Os que defendem a opinião de que a natureza humana é boa, rejeitam a teoria materialista de que o ser humano é um ser insignificante originado de uma ameba. Também não é possível sustentar a opinião de que ‘a natureza humana é boa’ a partir da ideia de que o ser humano seja parente do macaco e outros animais. É óbvio que tem a sua razão de ser a atitude mental de acreditar que todos os seres vivos são bons por natureza; mas para isso é imprescindível reconhecer a natureza divina presente no âmago de todos os seres vivos e imaginar um mundo onde reine a bondade em toda parte.
Porém, como a maioria da humanidade atual tende para o materialismo, é comum as pessoas de deixarem levar pela ideia de que o ser humano é mau por natureza. Se partirmos da ideia de que a vida, originada de um imperfeito elemento material, surgiu sob a forma de uma ameba, e após passar por gradativa evolução tomou a forma humana, teremos de admitir que certos defeitos e certas imperfeições inerentes às substâncias materiais elementares e aos seres rudimentares foram transmitidos ao ser humano e se manifestam sob a forma de mal. Tal ideia nos levaria a considerar o ser humano como simples animal, e a admitir que ele possui maus instintos ou que ele é fraco por natureza.
Se o ser humano fosse mau por natureza, não haveria nenhum meio de torná-lo bom. A natureza original não é passível de mudança; nem há razão para mudá-la. Consideremos, aqui, o fato de que em todo ser humano está latente a busca do bem, e isso nos leva a perguntar: ‘Afinal, será possível o bem surgir do mal? Será possível o ser humano buscar o bem, se ele é mau por natureza?’ A conclusão é que isso é impossível.
Não há dúvida de que a humanidade busca a paz; busca um mundo ideal onde não exista ninguém que seja pobre, doente, ferido ou discriminado. Isso corresponde a buscar o bem, e pode-se dizer que, neste ponto, é unânime o desejo de toda a humanidade. Embora existam pessoas que perseguem com avidez a fama e a fortuna, no fundo elas não desejam causar sofrimentos aos outros. No afã de encontrar a própria felicidade, cometem excessos recorrendo a expedientes materiais escusos.
Temos de reconhecer que a busca do bem só pode se originar daquele que é bom por natureza. Assim, a teoria de que ‘o ser humano é mau por natureza’ não consegue explicar nem o anseio da humanidade pela paz, nem o sentimento das pessoas que oferecem a própria vida por uma boa causa.
É verdade que, ao tomarmos conhecimento de casos horríveis como o daquele homem que levou a esposa e o filho para um passeio de carro e os assassinou, simulando um acidente para receber o dinheiro do seguro, sentimo-nos inclinados a duvidar da bondade inata do ser humano. Porém, por outro lado, ao considerarmos a reação indignada da maioria das pessoas diante desse caso, não podemos deixar de reconhecer que o ser humano é bom por natureza.
Com certeza, a própria pessoa que cometeu o ato de maldade tem consciência de que praticou uma ação condenável. Por isso, tentou ocultar a todo custo o mal que praticou. Então, devemos admitir que nela também está latente o bem, ou seja, sua natureza é divina (ou búdica). ”
Excertos da tradução em português de Ten-mado kara Hairu, de Seicho Taniguchi, publicados na revista Fonte de Luz, ano 30, no 297, setembro de 1994. Seicho-no-Ie do Brasil, São Paulo. Texto somente para estudo e uso pessoal.

Aprendendo a cada dia.
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